domingo, 19 de fevereiro de 2017

AUTORES MOÇAMBICANOS - "ODISSEIA DA ALMA", DE MORGADO MBALATE

ODISSEIA  DA  ALMA - BREVE ANÁLISE 
POR AURORA SIMÕES DE MATOS


Autor do Livro - Morgado Mbalate
Capa e imagens - João Timane







Breve Comentário à Obra Poética de Morgado Mbalate

Escrita de tonalidades fortes, o (im)previsível, em cada verso de Morgado Mbalate, jovem autor moçambicano.
Poesia de impactos arrebatadores ou de subtilezas semi-diluídas, memórias de ecos singulares. Sempre. Do passado e do presente. De um futuro, onde a penumbra se rasga em claridades de intenção quase sacral.

Sábio, o poeta. Numa juventude que respira legítimas ambições desocultadas, onde o cúmplice é agente de partilha. Numa inocência que se transfigura em minúsculas reflexões, onde o religioso é sinónimo e sujeito de religação. Numa disponibilidade que se expõe sem reservas, onde a sensibilidade criativa é inamovível referência de liberdade.

Manoel de Barros, um dos mais conhecidos e aclamados poetas brasileiros dos meios literários contemporâneos, será a sua mais forte influência.
 A natureza e as coisas simples do quotidiano, fonte de inspiração primordial. O rio sujo e mestiço, sua poesia de eleição.Talvez que do mestre tenha herdado certo fascínio recorrente pelas palavras "pássaro", "passarinho", "ave", "garça", "gorjeio", "árvore" ou "terra", entre outras de significado tão abrangente quanto a sua especificidade. Num estilo que o define, enquanto jovem escritor, particularizando-lhe o  pensamento, a ideia e a mensagem.



Sendo que a poesia é também arte, o impulso da criatividade emerge em Morgado Mbalate, num fluir de sensações em jogo de espelhos. Com a limpidez de um espírito poético de eleição, materializado em textos reveladores de afectos perenes. Sugestivas evocações, em belíssimas imagens, na sua expressão mais pura. Metáforas sinestésicas, na combinação perfeita de impressões sensoriais em profusão, com os sentimentos do poeta. A personificação, a prosopopeia, o animismo, a metonímia, em ritmos interiores geradores de uma dinâmica lírica, merecedora de toda a atenção.

Ler devagar a Obra deste autor é entrar na grande festa dos sentidos que os tons intensos de África nos sugerem. As cores, os sons, os cheiros, os sabores, maciezas aveludadas e rugosas asperezas. A pujança de uma natureza sempre viva, em harmonias que nos envolvem e acrescentam.
Os sonhos de uma moçambicanidade adulta, com coração de criança. A realidade de mãos dadas com a lenda. O preconceito de mãos dadas com a (in)diferença. A vida dura das gentes, plasmada em alegrias e esperanças redentoras.

Em toda a sua escrita, Morgado Mbalate por inteiro. Mesmo quando afirma: « Eu não sou uma semente de luz...», o poeta subscreve a importância da poesia no crescimento dos povos.

                                                         Aurora Simões de Matos




TEXTO  E  FOTOS  DE  AURORA SIMÕES DE MATOS



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